Resenhas

Resenha: “O Conto da Aia”, Margaret Atwood

Oi oi, beletristas! Como vocês têm passado? Por aqui está tudo bem, tenho estado ocupada com os trabalhos da faculdade, mas os professores têm sido super solícitos! Hoje, depois dos acontecimentos da semana (o caso da menina que fui abusada e diversas pessoas foram contra o interrompimento da gravidez), veio-me à lembrança um livro cujo gênero – distopia -, costuma tratar de situações opressoras e desumanas: O Conto da Aia. Portanto, resolvi trazer-lhes a resenha dessa obra tão aterrorizante.

O Conto da Aia, escrito em 1985 pela canadense Margaret Atwood, é uma ficção futurista ambientada num Estado teocrático e totalitário – a República de Gilead, sendo os Estados Unidos que já não existe mais -, onde as principais vítimas de opressão são as mulheres. Nessa realidade distópica (que, pela graça de Deus, é apenas ficção!), as pessoas do sexo feminino são propriedade do governo, sem direito a opinar ou tomar suas próprias decisões.

O Conto da Aia | Margaret Atwood | Editora Rocco | edição de 2017 | 368 páginas | Nota: 9.9/10

Nesse governo, as mulheres têm uma única função: serem Aias. As Aias são mulheres que, sendo as únicas férteis num país onde a taxa de fertilidade caíra imensamente, procriam para casais nos quais a mulher não pode engravidar, ou seja, emprestam sua barriga, alugam-na. Não podem recusar. Não podem ler. Não podem se expressar. Não podem opinar. Sempre de cabeça baixa, vestem vermelho e um chapéu branco que impedem-nas de terem uma visão lateral. São reduzidas ao seu útero e vivem em função dele. Uma vez por mês, em seus períodos férteis, as Aias são estupradas pelos donos da casa, deitadas no colo das esposas destes, simulando uma relação entre os dois. Bizarro demais, não? É agonizante só de pensar.

Nessa história, temos a protagonista Offred. Num país cujas leis são as do Antigo Testamento da Bíblia, as mulheres, como já dito anteriormente, têm todos os seus direitos revogados e agora são classificadas por castas. Mas… até mesmo seus nomes são apagados. As Aias passam, então, a terem seus nomes relacionados ao dono da casa a qual pertencem – no caso de Offred, ela pertence ao Fred (“of Fred” = “do Fred”).

Tiraram-nas tudo, menos suas lembranças. Constantemente, Offred pensa em seu passado: comum como o nosso presente; com Ubers, smartphones e direitos iguais entre homens e mulheres (pelo menos era o que constava na Constituição antes desse Estado opressor surgir). Os flashbacks de Offred levam-na para momentos com sua filha e seu marido, além de ir contando aos leitores como a vida era antes da queda dos EUA e o que aconteceu até ele se tornar Gilead.

Eu não tenho palavras para descrever a maestria da escrita de Atwood. Eu diria que a leitura é fácil, exceto pelo fato – já adiantando a vocês – de ser uma leitura extremamente sensível para nós, mulheres. No entanto, flui levemente e te faz refletir. A cada página e a cada dor de Offred, eu me levava a pensar se o conservadorismo que têm aumentado a cada dia pode um dia chegar ao ponto de existir uma Gilead. Na verdade, já existe: há diversos países que oprimem as minorias, infelizmente.

Eu recomendo fortemente a leitura, pois a cada repulsa e indignação que você sente com essa ficção distópica, você agradece imensamente ao feminismo. Diversas vezes eu me senti grata ao movimento feminista durante essa leitura, grata por não vivermos numa sociedade como essa (apesar de convivermos diariamente com o machismo e lutando contra o mesmo, felizmente este não chega a extremidades como acontece em Gilead). Sendo assim, é uma leitura essencial para levar-nos a refletir a importância de movimentos ativistas em nossa sociedade. Go, girls!

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